Epilepsia infantil: tipos, causas, sintomas e o que fazer durante uma crise

"16 de Novembro de 2017 - por Equipe Danone Nutricia

A maior parte dos tipos de epilepsia, também chamadas de síndromes epiléticas, têm início na infância, tanto é que metade dos casos ocorrem em pequenos de até 5 anos de idade. A condição é mais recorrente em bebês nascidos em países em desenvolvimento e em populações rurais. Da totalidade dos casos, uma média de 70% a 80% desaparecem na adolescência, portanto, apenas 20% a 30% podem ser consideradas graves e permanecem até o fim da vida.

É praticamente impossível os pais não se assustarem ao ver uma criança tendo um ataque epilético: o pequeno perde a consciência do que está ocorrendo, cai no chão se está de pé e suas pernas e braços se enrijecem. Após isso, a criança começa a se debater até que a crise se encerre e, ainda atordoada, vai voltando ao seu estado normal aos poucos.

Tanto a criança, quanto o adulto ficam receosos e inseguros por não entenderem o que está acontecendo, principalmente se é a primeira vez que o ataque acontece. E é justamente neste estágio que mora o perigo: os palpites de familiares e amigos próximos sobre a doença vem à tona sobre o que fazer e como tratar, se é contagiosa etc. Por isso, reunimos abaixo as perguntas mais frequentes sobre a epilepsia infantil, quais são suas causas, seus tipos, o que os diferenciam e como tratá-la.

O que é epilepsia infantil?

A palavra epilepsia tem sua origem no idioma grego e significa “evento inesperado”. Seu primeiro registro na literatura médica aconteceu em 1873, quando o neurologista inglês John Hughlings Jackson definiu e classificou as crises, que anteriormente eram definidas como quedas seguidas de contrações musculares.

Portanto, a epilepsia pode ser caracterizada como uma condição neurológica que afeta o cérebro e o sistema nervoso. O nosso cérebro é composto por milhões de células nervosas que usam sinais elétricos para controlar as funções, sentidos e pensamentos do corpo. A interrupção desses sinais caracteriza o ataque epilético, uma alteração temporária e, na maioria das vezes, reversível do funcionamento cerebral. O aparecimento de duas ou mais crises num intervalo de um ano caracteriza a doença. A epilepsia é um dos distúrbios neurológicos mais comuns na infância, portanto, os pais devem ficar atentos.

Quais são os tipos de crise epilética?

Há diversos tipos de epilepsia infantil, entretanto, as crises epiléticas podem ser divididas em dois grandes grupos: a primeira pode ser chamada de parcial, e conforme o próprio nome já diz, remete aos sinais incorretos que afetam somente um hemisfério do cérebro caso seja generalizada, o cérebro inteiro será afetado. É importante ressaltar que crise epilética é diferente de epilepsia: a primeira diz respeito ao fenômeno em si, enquanto que o segundo termo é utilizado para caracterizar a condição.

Como detectar que uma criança está tendo uma crise epilética?

Primeiramente, é importante ressaltar que convulsão febril e desmaios súbitos devido a queda da pressão não configuram uma crise epilética. Os sinais de que seu filho está tendo uma crise, portanto, são: quedas seguidas de contrações musculares fortes e rítmicas convulsão transpiração excessiva com movimentos anormais e involuntários e alterações na boca. É importante ressaltar que embora a criança pareça sentir dor, ela não está, pois está desacordada. E embora não haja nenhuma forma de interromper a crise no momento em que ela está ocorrendo, existem formas de torná-la menos perigosa.

O que fazer quando uma criança está sofrendo uma crise epilética?

A primeira indicação e talvez a mais importante de todas é retirar das proximidades objetos pontiagudos ou cortantes, que possam oferecer risco de ferimento para o pequeno. Afrouxar as roupas, caso sejam muito justas também deve ser feito. Outra dica importante é proteger a cabecinha da criança, impedindo que os movimentos bruscos realizados pelo próprio corpo firam a sua cabeça.

Dependendo da crise, algumas crianças podem vomitar. Por isso, uma das recomendações é virar a cabeça do pequeno de lado para evitar que ele se engasgue com seu próprio vômito. Muitas pessoas dizem e já ouviram falar que uma das indicações é impedir, a todo custo, que a criança morda a própria língua. Entretanto, essa é uma recomendação impraticável e o órgão muscular não representa perigo. No mais, o que resta é esperar a crise se encerrar e não assustá-la para que ela se sinta acolhida e levá-la ao médico para saber quais são as causas da crise e se ela pode ser diagnosticada como benigna ou como sintoma de alguma síndrome epilética sintomática ou idiopática.

Como diagnosticar uma síndrome epilética?

Há uma infinidade de tipos de síndromes epiléticas infantil. Alguns dos fatores que devem ser considerados no diagnóstico são as características das crises, que devem ser descritas ao pediatra. Alguns pais, inclusive, registram as crises em vídeo, um fator que também pode ajudar no diagnóstico da epilepsia infantil. Além disso, outros dados importantes que devem ser apresentados ao médico durante a consulta são: idade, horário da primeira convulsão, gênero na criança, se ele é maiorzinho e está apresentando dificuldades de aprendizagem.

No caso de síndromes epiléticas desenvolvidas a partir de traumas cerebrais ou de infecções cerebrais como encefalite serão solicitados exames de imagem como ultrassom e raio-x da região da cabeça. No caso da meningite, o pediatra realizará a punção na região da espinha do pequeno, em que uma agulha é colocada na espinha para coletar uma amostra do liquor, que será diagnosticada em laboratório. Um exame bastante utilizado por especialistas da área para identificar os tipos de síndrome epilética é o eletroencefalograma, que registra, com a ajuda de um aparelho, as correntes elétricas do cérebro da criança.

Quais são as causas e os sintomas das síndromes?

Existem muitos tipos diferentes epilepsia infantil, portanto, suas causas dependem diretamente das características de suas síndromes, quando são caracterizadas como severas. Algumas crianças desenvolvem epilepsia como resultado de ferimentos na região cerebral causados pelo parto como asfixia ou baixo peso ao nascer.

Além disso, os pequenos também podem desenvolvê-la após sofrerem algum trauma na cabeça no caso de acidentes de carro. Defeitos congênitos ou malformações, assim como acidentes vasculares cerebrais que acarretam a falta de oxigênio no cérebro, algumas infecções cerebrais como encefalite e meningite viral e tumores cerebrais também podem causar epilepsia. Neste caso, a epilepsia é caracterizada como sintomática ou secundária.

Há também as síndromes epiléticas infantis desenvolvidas a partir de causas genéticas, que podem ser herdadas de um ou de ambos os pais ou mutações raras dos genes dos pequenos. Neste caso, a epilepsia é chamada de idiopática. Reunimos abaixo 6 tipos de síndrome de epilepsia infantil que variam de acordo com suas causas, sintomas e tratamentos:

Epilepsia rolândica (ER)

A epilepsia rolândica é o tipo mais comum da doença e atinge uma média de 15% a 25% de todos os casos registrados antes das crianças completarem 15 anos de idade. As crises podem ser parciais ou generalizadas e acontecem, geralmente, durante o sono ou logo quando os pequenos acordam. Estudos realizados sobre o tema sugerem que a síndrome apareça devido a causas genéticas, mas ainda não há comprovação científica.

Como as convulsões, normalmente, não prejudicam o aprendizado da criança, alguns especialistas a caracterizam como benigna. Entretanto, novos estudos produzidos na área têm comprovado alterações no aprendizado e no desenvolvimento neurológico infantil, esses dois fatores devem ser levados em consideração por neurologistas para traçar os tipos de tratamentos. Se o seu filho apresentar alguma crise convulsiva quando está dormindo ou ao acordar, fique atenta.

No caso de crises parciais acarretadas pela síndrome, os locais mais afetados são o rosto e a boca, mas algumas crianças também podem apresentar crises generalizadas. Normalmente, as convulsões dessa síndrome desaparecem na adolescência, mais um dos fatores utilizados para caracterizá-la como benigna.

Síndrome de West

Extremamente rara — com registros de um caso a cada 5 mil bebês — a síndrome de West é uma desordem do cérebro caracterizada pela presença de espasmos musculares que ocorrem, principalmente, em bebês com idades entre o 2º ao 12º mês, mas pode afetar os pequenos até os 2 anos de idade. Normalmente, as causas da síndrome são genéticas e os principais sintomas são movimentos repetitivos, onde o pequeno flexiona e estende o corpo muitas vezes.

É mais comum que a síndrome apareça em bebês do sexo masculino, e é fundamental que os pequenos sejam diagnosticados logo cedo, pois caso não sejam ministrados os cuidados adequados nos dois primeiros anos de vida, os espasmos podem até desaparecer até que a criança complete 5 anos, mas as crises epiléticas voltarão com sintomas mais graves, comprometendo o desenvolvimento cerebral e acarretando dificuldades físicas e cognitivas.

O tratamento é feito com base em medicamentos anti-epilépticos e hormonais como esteróides orais. No caso de resistência por parte das crianças, a cirurgia pode ser considerada por alguns especialistas.

Síndrome de Rett

Causada por uma mutação genética espontânea, a síndrome é um transtorno de desenvolvimento extremamente raro que afeta, quase que exclusivamente, uma em cada 10 mil garotas. As pequenas que possuem a doença apresentam desenvolvimento inicial normal, e a partir do 6º mês de vida, uma desaceleração acentuada. O campo motor é o mais afetado: perda ou movimentação irregular e desproposital das mãos, problemas ao andar são sintomas registrados, além do crescimento lento do cérebro que, consequentemente, gera deficiência intelectual e dificuldades na aprendizagem.

Não existe cura para a síndrome e o tratamento é realizado para atenuar os sintomas. Especialistas indicam o uso de medicamentos antiepiléticos e outros remédios para atenuar as irregularidades na movimentação.

Síndrome de Angelman

Também de causa genética, a frequência do aparecimento da síndrome de Angelman é de um caso em 25 mil crianças. O atraso intelectual e motor são sinais cruciais que podem surgir a partir dos dois anos de idade. Bebês com a síndrome têm dificuldade para balbuciar palavras e engatinhar.

As características mais evidentes como distúrbios do sono, convulsões, atraso na fala, movimentos bruscos das mãos, além da presença de risadas ou sorrisos sem motivação aparente, surgem, com maior frequência na faixa etária de 3 a 7 anos de idade, quando o diagnóstico pode ser feito com maior clareza. No caso desta síndrome, o desenvolvimento intelectual e motor é comprometido.

Sem cura, o tratamento é realizado como forma de atenuar os sintomas: remédios antiepiléticos, além da recomendação de terapia ocupacional e fisioterapia e sessões de fonoaudiologia são importantes para que os pequenos atinjam seu potencial máximo de desenvolvimento.

Síndrome de Dravet

A síndrome de Dravet é ainda mais rara — estima-se o aparecimento de um caso para cada 40 mil crianças nascidas. Geralmente, os sintomas costumam aparecer no primeiro ano de vida, antes disso, o desenvolvimento neurológico é normal. A síndrome, de origem genética ocorre com maior frequência em bebês do sexo masculino. Esse é um dos tipos mais graves de síndrome epilética e as crises podem ter duração de mais de 20 minutos, principalmente nos primeiros anos de vida.

Outro fator que merece destaque, neste caso, é que o desenvolvimento da síndrome pode ser confundido com convulsões febris. Em casos mais extremos, as crianças podem registrar 500 ataques diários, podendo, inclusive, entrar em coma. A frequência das convulsões aumenta gradativamente, e com o passar dos anos, são desencadeadas sem o aparecimento de febre e ocorrem, principalmente durante o sono. Do segundo para o quarto ano de vida, os bebês desenvolvem vários graus de atraso na parte cognitiva e motora do cérebro, acarretando algum tipo de retardo mental. Em casos não tão graves, alguns especialistas recomendam a cirurgia hemisférica, quando não há uma boa resposta mediante ao tratamento medicamentoso, que apresenta melhora em 69% dos casos.

Como tratar epilepsia infantil?

Os tipos de tratamento variam de acordo com com o tipo de epilepsia desenvolvida pela criança — que pode ser benigna ou severa. Geralmente, especialistas recomendam o uso de medicamentos para neutralizar o efeito das crises, que podem variar o espectro de ação de acordo com a origem da crise, que pode ser parcial ou generalizada.

Quando as crianças apresentam uma síndrome que compromete o desenvolvimento motor ou cognitivo, pediatras indicam a realização de sessões de terapia ocupacional, fisioterapia, sessões de fonoaudiologia etc, além da recomendação cirúrgica em alguns casos, como o da Síndrome de West, por exemplo.

O que é epilepsia benigna?

Especialistas classificam 8 tipos de ocorrência de epilepsia benigna, que atingem a faixa etária de 2 a 17 anos, desaparecendo na fase adulta. A epilepsia rolândica é a mais frequente na infância e as características em comum entre os tipos são: desenvolvimento psicomotor e exame neurológico normal. Apesar da evolução ser considerada benigna, o que significa o desaparecimento no decorrer dos anos, em alguns casos, crianças podem ter impacto negativo tanto no desempenho social, quanto acadêmico.

A epilepsia em crianças têm cura?

No caso da epilepsia benigna, seu desaparecimento ocorrerá na fase adulta. Se o seu filho foi diagnosticado com alguma síndrome epilética idiopática ou secundária, as crises mais graves podem ser atenuadas com tratamento feito a base de antiepilépticos ou cirurgia, mas assim como qualquer síndrome, não tem cura.

A cirurgia, recomendada em alguns casos é realizada para remover ou separar a porção do cérebro responsável pelas crises para minimizar sua recorrência. Em alguns casos, especialistas também recomendam a administração de uma dieta cetogênica, ou seja, que minimiza o consumo de carboidratos. Entretanto, é importante ressaltar que isso será feito apenas em alguns casos e sempre seguindo recomendações médicas e nutricionais.

A epilepsia afetará a vida do meu filho?

Quanto mais cedo o diagnóstico for feito, melhor será a forma de lidar com as crises do seu filho, caso ele não sofra de epilepsia benigna. Pediatras e neurologistas poderão até prever como será o desenvolvimento da síndrome, se for o caso. Entretanto, é impossível prever como isso influenciará na vida de uma criança.

Especialistas indicam que os pais não tenham medo de falar com eles sobre o assunto, de modo a ajudá-los a lidar da melhor forma com os ataques. Infelizmente, a tendência é que a criança, assim como os familiares, se assustem com as crises, portanto, o diálogo é uma das melhores saídas para que o pequeno entenda sua condição e não tenha medo de dizer o que sente.

Algumas crises de epilepsia infantil podem ser desencadeadas por situações extremas de estresse, esforço físico, medicação e até mesmo distúrbios do sono. Outra dica para os familiares, neste caso, é fazer um diário e registrar qual é a frequência das convulsões, bem como suas características. Portanto, evite que seu filho passe por situações extremas como essas. Dormir bem e se alimentar regularmente, com uma dieta balanceada são ações fundamentais para ajudar a reduzir a frequência das crises.

Crianças com epilepsia podem tomar vacina?

Sim. É natural que alguns pais se perguntem, mas todas as vacinas que constam no calendário obrigatório de imunização devem ser dadas às crianças, inclusive as que apresentem alguma síndrome epilética, para que o processo de imunização infantil seja eficaz, de acordo com recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde. Sempre consulte o pediatra, ele é o profissional mais indicado para dar a melhor orientação quanto às vacinas.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

“Tratamento da epilepsia na infância - Artigo de revisão” - Jornal de Pediatria.
http://www.jped.com.br/conteudo/02-78-S19/port.pdf

“Tudo sobre epilepsia” - Liga brasileira de epilepsia.
http://epilepsia.org.br/o-que-e-epilepsia/

“Crises e síndromes epilépticas na infância” - Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento.
http://epilepsia.org.br/wp-content/uploads/2017/05/Epilepsia-na-infancia-Material-03.pdf

“Crises e síndromes epilépticas na infância” - Casa Leitura Médica.
http://epilepsia.org.br/wp-content/uploads/2017/05/Epilepsia-na-infancia-Material-01.pdf

“Epilepsias na Infância” - Revista Neurociências, Unifesp, 2000.
http://revistaneurociencias.com.br/edicoes/2000/RN%2008%2003/Pages%20from%20RN%2008%2003-6.pdf

“Inventário simplificado de qualidade de vida na epilepsia infantil: Primeiros resultados.” - Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-UNICAMP).
http://www.scielo.br/pdf/%0D/anp/v57n1/1534.pdf

“Causes of Epilepsy in Childhood” - Epilepsy Foundation.
http://www.epilepsy.com/living-epilepsy/parents-and-caregivers/about-kids/causes-epilepsy-childhood

“Epilepsy in Childhood” - Epilepsy Society.
https://www.epilepsysociety.org.uk/epilepsy-childhood#.Wb7Js7KGPIU

“Childhood Epilepsy Syndromes” - Epilepsy Research UK.
https://www.epilepsyresearch.org.uk/about-epilepsy/childhood-epilepsy-syndromes/

“Características neurológicas e neuropsicológicas na epilepsia rolândica” - Instituto Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo E Unidade de Pesquisa e Tratamento das Epilepsias - (UNIPETE/UNIFESP).
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-74092012000100005

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